A Copa do Mundo, a Marcha dos Elefantes e a valorização da união da categoria

Presidente da Fenapef entre 2013 e 2015, Jones Leal recebeu proposta de garantir aumento para servidores da ativa em troca do fim da paridade

Fonte: Comunicação Fenapef

Data: 15/07/20

Em 2012, o governo federal conseguiu aprovar a Reforma da Previdência que criou o Fundo de Previdência do Setor Público (Funpresp). Com a entrada em vigor das novas regras, em 2013, o funcionalismo passou a ter uma previdência mais parecida com a do servidor da iniciativa privada. Foi nessa época que o então presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Jones Borges Leal, ouviu uma proposta: os policiais federais da ativa poderiam receber aumentos salarias desde que os aposentados ficassem de fora. “Não aceitei. Isso seria uma quebra do princípio da paridade e da integralidade dos salários, criando assim uma desunião entre os servidores novos, que estivessem perto ou em condições de se aposentar e os aposentados, deixando, desta forma, os sindicatos praticamente inviabilizados”, conta.

Atualmente aposentado da PF e chefe de gabinete do deputado Ubiratan Sanderson (PSL-RS), Leal lembra que a Fenapef recebeu a proposta de dois ministros da época. Como presidente da maior entidade representativa da categoria, nem pensou em aceitar. “Seria abandonar colegas quando eles mais precisam”, explicou.

Leal foi presidente da Fenapef entre 2013 e 2015. O período foi marcado pela luta para que a exigência de nível superior para os policiais federais se revertesse também em salários de nível superior. `

Em fevereiro de 2014, um grande ato em frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista, marcou o protesto contra as condições de trabalho do pessoal da corporação. Mais de 200 manifestantes chamaram a atenção para o fato de que era preciso repensar a segurança pública brasileira, já que o país se preparava para receber a Copa do Mundo.

“Na época, estávamos com os salários congelados há sete anos”, relata Leal. Em 2012, a Polícia Federal passou pela maior greve da sua história, interrompida por uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que obrigava o retorno das atividades por conta da iminência das eleições.

“Não buscávamos um simples aumento salarial, mas uma nova tabela de pagamento. Porque temos atribuições de nível superior, complexas e com alto grau de responsabilidade, mas éramos pagos [com base] em uma tabela de nível médio.”

Marcha dos Elefantes

Pouco antes da Copa de 2014, os policiais federais ameaçaram cruzar os braços. Houve manifestações em diversas partes do país, pedindo melhores salários e reestruturação das carreiras. O interlocutor do Governo Federal, Gilberto Carvalho, para tratar das reivindicações da categoria – recomposição inflacionária (35% aproximadamente) e atribuições em lei.

Em março, a Fenapef promoveu a “Marcha dos Elefantes Brancos”, com centenas de policiais federais de todas as partes do País. Os elefantes simbolizavam a burocracia e a politicagem na segurança pública. "A entidade denuncia que servidores burocratas, sem experiência operacional em campo, estão sendo indicados por critérios políticos para planejar e coordenar a segurança da Copa 2014", citava nota da federação sobre o tema, publicada à época.

A entidade reclamava que "em todos os aeroportos e unidades de fronteiras brasileiras, sem exceção, não existia quantidade suficiente de agentes federais para cuidar do policiamento aeroportuário, de fronteiras e combate ao crime organizado. Em alguns aeroportos não tem nenhum. E infelizmente mais de 250 policiais federais abandonam a profissão todos os anos, pois a carreira tem sido duramente sucateada pelo governo", comentou o então presidente da Fenapef.

Em junho, o governo baixou a Medida Provisória 650, que reconhecia a remuneração de nível superior para os policiais federais. A MP foi convertida na Lei n° 13.034, que estabeleceu, inclusive, os valores dos subsídios para cada cargo e classe da categoria.

Suicídios

Outra bandeira da gestão Leal foi a preocupação com o crescimento do número de suicídios entre policiais federais. Com o índice aumentando ano a ano, a Fenapef se ocupou em mapear o problema. Foi assim que descobriu que, do total de pouco mais de 11 mil policiais federais na época, dois mil afirmavam tomar algum tipo de medicamento psiquiátrico. “Oficialmente, existem apenas um psiquiatra e cinco psicólogos para atender toda a PF", disse Leal.

A rotina começa estressante desde a Academia. Os novatos ficam em regime de internato e só podem sair nos finais de semana. Passado esse período, acabam lotados em locais difíceis, como áreas de fronteiras ou regiões isoladas do País. Isso somado à precarização do trabalho nessas regiões, assusta os iniciantes.

Detalhe: quando recebe o diagnóstico de transtorno psicológico ou depressão, o policial federal pode ter sua arma e seu distintivo tomados. E isso faz o profissional se sentir à margem.

Jones Leal ingressou na Polícia Federal em 1989 e passou a se interessar pelo movimento sindical em 1994,  durante uma longa greve da categoria. Foi presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal entre 2010 e 2013. Depois de um mandato à frente da Fenapef, dedica-se agora aos policiais federais “dentro do Congresso”, como gosta de definir. Afinal, o deputado Sanderson é um dos principais representantes da categoria no Legislativo.

OUTRAS NOTÍCIAS

Fenapef comemora 30 Anos com lives

Policiais Federais que se especializam, estudam e se tornam escritores

Fenapef apoia Prêmio Congresso em Foco

Fenapef incentiva crescimento profissional dos funcionários