Na Folha Dirigida: Fenapef defende números maior de psicólogos na PF

Alguns sindicatos se anteciparam e já oferecem ajuda aos filiados

Fonte: Comunicação Fenapef

Data: 17/09/20

Questões de saúde mental foram, por muito tempo, um tabu entre os servidores e os comandos das forças de segurança pública no Brasil. Mas o aumento nos índices de suicídio, especialmente entre policiais federais, disparou o alerta, inclusive entre os representantes da categoria. Levantamento feito junto aos sindicatos apontou que, em cinco anos, 50 servidores da Polícia Federal cometeram suicídio.

Para a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), a falta de um programa de prevenção e enfrentamento da “epidemia” de suicídios torna ainda mais grave a situação de quem enfrenta problemas de saúde no Brasil. Atualmente, o que existe é uma norma interna entre as forças de segurança pública: quem é afastado por problemas de saúde ligados à psiquiatria tem, imediatamente, a arma recolhida. Para alguns policiais, isso aumenta ainda mais o estigma.

Sobre a atenção direta à saúde do policial federal em sofrimento mental, a verdade é que a oferta de profissionais no quadro da corporação não é suficiente para suprir a demanda. Em 2019, o Ministério da Economia vedou a contratação de novos profissionais. De acordo com as últimas informações disponíveis, há apenas 15 psicólogos em todo o efetivo da Polícia Federal.

A Fenapef tem tentado aumentar esse número. O presidente, Luís Antônio Boudens, disse que, entre as modificações no número e nos cargos para o próximo concurso – já confirmado pelo ministro da Justiça, André Mendonça –, vagas para psicólogos seriam mais do que necessárias.

Alguns sindicatos de policiais federais já se adiantaram e estão garantindo assistência à saúde mental dos filiados, ainda que sob a forma de convênio. Do total de 27 sindicatos, 13 informaram que garantem assistência, seja no próprio sindicato, seja sob a forma de subsídio ou parceria com profissionais da área.

Recorde

De acordo com dados do estudo “Panorama do Suicídio Policial”, elaborado em 2019, se fosse um país, a PF seria o primeiro em ranking mundial no índice de suicídios em relação à população. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, são 5,8 suicídios a cada grupo de 100 mil habitantes. Somente na PF, a média sobe para 36,7. No mundo, 14 pessoas se matam a cada 100 mil, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Considerando que a taxa média do suicídio entre a população brasileira em geral entre 2014 e 2018 (usando as novas estimativas e projeções populacionais do IBGE e os números do Painel de Mortalidade do Ministério da Saúde) é de 5,61 por 100 mil habitantes, isso significa que um policial federal, no Brasil, é 15 vezes mais propenso ao suicídio do que o restante da população do país.

A categoria trabalha sob um nível de pressão enorme. “Há pesquisas internas mostrando que metade dos agentes tem ou teve sintomas de depressão”, conta Boudens. “A luta vem de muitos anos e demanda da direção que se criem mecanismos para identificar o perigo e tratar os policiais, evitando essas mortes, mas é muito difícil”, complementa.

“Nos últimos anos tivemos um significativo aumento no número de suicídios na PF. Isso se deve à falta de uma política de gestão de pessoal. Temos uma atividade que é considerada a segunda mais estafante do mundo”, explica o diretor jurídico, Flávio Werneck.

Em setembro, mês dedicado mundialmente à prevenção do suicídio, a Fenapef insiste que o policial federal que se sentir pressionado, desmotivado ou deprimido procure ajuda – seja ela profissional ou mesmo entre os colegas. Conversar pode ser o primeiro passo para a recuperação plena da saúde mental.

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