Inquéritos da PF contra crime organizado reduziram 27%

Novas investigações de corrupção e tráfico têm queda, mas modelo de apuração otimizado explica tendência

Fonte: SBT News

Data: 15/06/22

Marcus Firme, presidente da Fenapef | Divulgação

O número de inquéritos abertos pela Polícia Federal nos últimos quatro anos para o combate ao crime organizado reduziu 27%: de 59 mil para 43 mil. A PF afirma que a redução decorre da otimização das investigações.

A reportagem do SBT News analisou os dados oficiais da PF, de 2018 a 2021, sobre inquéritos abertos e finalizados, das unidades subordinadas à Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor).

A área é estratégica na PF. Concentra apurações de grandes esquemas criminosos e de alta repercussão, e áreas diversas, como combate ao tráfico de drogas, à corrupção, aos crimes financeiros, ao meio ambiente, crimes cibernéticos, pedofilia, entre outras.

São 76,3 mil inquéritos abertos em andamento nas unidades da Dicor, atualmente. Metade disso, 37 mil, só da Divisão de Repressão a Crimes Fazendários (Defaz).

A Divisão de Repressão à Corrupção (DRC), uma das subordinadas à Dicor, registrou queda de 25% nos inquéritos abertos. No ano passado foram abertas 1.440 apurações. Em 2018, foram 1.933.

O combate ao tráfico de drogas também caiu ainda mais, em igual período: 40%: de 5.698 inquéritos instaurados, para 3.411, em 2021.

Na contramão dessa tendência de redução de abertura de investigações contra o crime organizado, duas áreas que apresentaram aumento foram a divisão que combate os crimes contra os direitos humanos, contra povos indígenas e o tráfico de pessoas e a divisão de assuntos sociais e políticos (a Dasp).

Outro dado positivo é que o número de inquéritos solucionados, em relação aos instaurados no ano, cresceu. Em 2018 foram encerrados 55 mil casos, equivalente a 93% dos abertos. Em 2021, 50 mil inquéritos foram finalizados, passando o total de 43 mil inquéritos iniciados.

Explicação

A PF afirma que o menor número de inquéritos abertos é reflexo de projetos de inovação nos métodos de investigação, que focam crimes massivos e otimizam as apurações e tornam mais eficientes os resultados finais dos inquéritos.

"O foco não é simplesmente instaurar inquérito, o foco é atuar em cima de organização criminosa, em cima de fraude estruturada, buscar quem realmente está praticando e retirar de circulação e desarticular financeiramente", afirmou o diretor interino da Dicor, delegado Cléo Mazzotti, ao SBT News.

"Nós deixamos de atuar em diversos crimes, no caso a caso, pegando apenas uma situação pontual e juntamos diversas situações para analisar uma atuação de uma organização criminosa, para investigar fraude estruturada. Atuar em cima de desestruturar a organização criminosa e desarticular ela financeiramente."

Mazzoti chefia a coordenação que concentra mais inquéritos na Dicor, a área Fazendária, que têm alguns projetos em andamento, como o Prometheus e o Tentáculos, que usam inteligência para detectar grandes fraudes. "Esses projetos de enfrentamento massivo de forma inteligente é um dos motes da diminuição do número de instauração de inquéritos por parte da PF. Instaura-se menos inquéritos, mas se combate melhor o crime."

"A diminuição do número de inquéritos, com a otimização das investigações, aumenta o potencial investigativo e aumenta a capacidade de resposta da PF", diretor interino da Dicor, Cléo Mazzotti
O Projeto Prometheus, que identifica com uso de inteligência policial grandes esquemas criminosos, foi essencial no combate aos falsificadores de moeda. "A gente recebe as notícias de crimes, insere num sistema, ele identifica onde está a atuação da organização criminosa e a gente, ao invés de instaurar 100, 200 inquéritos, a gente instaura 1, e nesse um, pegamos a organização criminosa." Nos últimos anos, a PF afirma ter desarticulado "os 28 maiores laboratórios de moedas falsas do país, sem ter que abrir centenas de inquéritos". 

Contraponto

Policiais ouvidos em reservado e entidades de classe apontaram à reportagem que as trocas de comando na PF, nos últimos anos, podem ter influenciado também nessa redução de inquéritos.

"Realmente com trabalho de inteligência, acarreta uma diminuição no número de inquéritos, porque você diretamente no que interessa e não picando coisas e fazendo vários inquéritos", afirma Marcus Firme, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef).

"Mas, as mudanças constantes, periódicas até, em curto período de tempo (de comando na PF), não há dúvidas de que prejudica. Muda totalmente o processo de trabalho, de quem está trabalhando, das chefias", afirma Firme. "Negar isso é tapar o sol com a peneira."

O presidente da Fenapef afirma que, com queda ou aumento, as "investigações continuam arcaicas". "A metodologia de investigação, infelizmente, continua privilegiando a burocracia cartorária, em que se faz mais papel do que realmente investigação.'

Segundo Mazzotti, a "otimização da atuação da PF sempre foi buscada". "E sempre vai ser o objetivo, na questão dos inquéritos". Ele rechaça relação entre o número de inquéritos e mudanças no comando. "A troca de comando não interfere no cerne da investigação."

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