“É preciso gerar confiança nas próprias polícias brasileiras”, afirma Renato Sérgio Lima

Data: 20/07/17

 

A Federação Nacional dos Policiais Federais acompanhou, entre os dias 17, 18 e 19 de julho de 2017 em São Paulo, o 11º Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O evento teve como principal objetivo discutir a “Reforma e Modernização das Instituições Policiais”.

Na oportunidade, a Agência Fenapef entrevistou o Diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, que falou sobre os principais resultados e desafios do Fórum, que há mais de uma década se preocupa em solucionar os compromissos da agenda da segurança pública brasileira.

1) Quais os principais resultados consolidados nos últimos 11 anos de Fórum?

Renato Sérgio de Lima - O Fórum ao longo da sua história tem ajudado na formulação de uma série de políticas públicas. A principal conquista que nós temos é a publicidade de informações. Os dados eram praticamente inexistentes. Mas, desde 2007, com a publicação do Anuário da Segurança Pública, não se discute mais ter ou não ter dados. Hoje se discute a qualidade e muito é tributo do anuário brasileiro de segurança pública. Os resultados só foram possíveis por uma série de parcerias com IBGE, IPEA, governos municipais, estaduais e Poder Executivo.

No Congresso Nacional conseguimos encaminhar um Projeto de Lei sobre a lei de acesso a informação na segurança pública. O texto já foi aprovado na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e aguarda apreciação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. A aprovação é fundamental para avançar nos debates sobre a como melhorar a segurança pública e a atividade policial. O texto do projeto foi discutido no Fórum, assim como a revisão técnica. A partir da experiência do anuário conseguimos sugerir uma proposta de legislação que resolva, de fato, o problema da validade da informação.

2) Além do projeto no âmbito legislativo, quais outras ações merecem destaque?

Publicamos a informação sobre o assédio moral e sexual no ambiente profissional da segurança pública. Um grupo de trabalho foi instalado e tivemos a chance de elaborar um conteúdo sobre uma série de casos para o enfrentamento da violência contra a mulher. Já foram mais de 200 produtos elaborados que hoje estão sendo adotados pelas corporações e instituições.

3) Qual os resultados que devem sair do Fórum deste ano, que teve como tema principal Reforma e Modernização das Instituições Policiais?

O principal achado do evento tem sido a discussão da confiança. As instituições policiais precisam se repensar para gerar confiança na população. O professor sociólogo Arthur Trindade sempre comenta que segurança pública não é só combate ao crime, mas é também pensar na redução do medo e da insegurança. Para alcançar esse objetivo, é preciso ter política pública elaborada por instituições confiáveis por parte da população. Não se reduz medo impondo medo, e violência com violência. A polícia não vai desenvolver um bom trabalho se houver vítimas de assédio. Para pensar, de fato, na modernização da segurança pública, é preciso pensar como gerar confiança nas próprias policias brasileiras.

4) Quais são os principais desafios no cenário da segurança pública?

A redução da violência, do medo, a valorização do policial brasileiro que está na linha de frente, seja o agente da Polícia Federal, quanto da Polícia Militar ou da Polícia Civil. Esses profissionais estão, muitas vezes, no enfrentamento do ‘mata a mata’ que faz muito mais vítima do que deveria no Brasil.

5) E qual seria o modelo ideal de polícia para o Brasil? Algumas questões fundamentais precisam ser resolvidas. O ciclo incompleto de polícia é um problema, mas precisa ser resolvido com controle, valorização profissional, implementação de carreira única e uma série de medidas.

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*Renato Sérgio de Lima desenvolve inúmeros projetos sobre segurança pública, transparência e estatísticas. Professor e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência e do Núcleo de Estudos sobre Organizações e Pessoas da Fundação Getúlio Vargas, Renato é graduado em Ciências Sociais (1995), com mestrado (2000) e doutorado em Sociologia (2005) pela Universidade de São Paulo e Pós-Doutorado no Instituto de Economia da UNICAMP (2010).

Agência Fenapef de Notícias

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