“Lava Jato vai se afundar em burocracia”, critica Presidente da Fenapef

Data: 18/07/17

Luís Antônio de Araújo Boudens, atual presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), esteve na bancada do Pânico na Rádio nesta terça-feira (18). Entre diversos outros assuntos, o convidado comentou a recente redução na equipe designada para a força-tarefa da Operação Lava Jato e a contingência de 44% do orçamento previsto para 2017. Sob o governo de Michel Temer (PMDB), este foi o primeiro corte expressivo no efetivo de investigações.

“A Lava Jato está ameaçada. Uma hora ela vai acabar, tem um limite de operacionalidade. Essa desconfiguração do formato de força-tarefa imediatamente vai burocratizar a investigação. Hoje os relatórios produzidos vão direto para o Ministério Público, que analisa e oferece denúncia”, disse. “O maior crime que poderia ocorrer é colocar a Lava Jato na nossa estrutura atual, que não resolve nada (...). Vamos vê-la se afundar em burocracia”, completou.

Boudens explicou que quem determinou essa mudança foi a própria superintendência da polícia. Não seria possível afirmar de início, então, que a cena teria sido orquestrada por governistas ameaçados com a possibilidade de serem investigados. Mas confirmou que a suspeita está, sim, sendo analisada. “Quem determinou essa mudança foi a própria gestão da polícia. Houve a ‘canetada’. O que estamos avaliando é se houve pressão externa”, afirmou.

Sobre Sérgio Moro, com quem já trabalhou diretamente, coube apenas elogios. “Trabalhamos direto com a Justiça Federal. Conheço vários juízes. O Moro se destaca pela coragem. Hoje, apresentar a postura dele é uma raridade no nosso país. Temos colegas que também fazem esse trabalho, mas sem a exposição dele. Corajoso temos certeza que ele é. E as sentenças são bem calçadas, ele tem muito conhecimento na área de crimes financeiros. Outras coisas ficam para análises paralelas”.

Desmilitarização da PM e legalização das drogas: discussões necessárias

Durante sua participação na bancada, Boudens comentou também a alarmante situação das polícias brasileiras e revelou que defende uma ampla mudança na estrutura da segurança pública – incluindo as discussões da desmilitarização da Polícia Militar e da legalização das drogas.

“Temos várias investigações paradas na PF por causa do nosso modelo arcaico. Usamos o modelo que Portugal trouxe e nem Portugal usa mais! É isso que estamos discutindo, uma mudança nas estruturas policiais. Temos que discutir a desmilitarização, o Brasil tem medo da polícia. Temos que discutir a distorção salarial. A polícia que te atende não está na estrutura que vai investigar. Quando a pessoa é furtada ela nem liga, vai embora, não chama a polícia”, disse.

“Não preparamos nossas estruturas para a democracia de 1988. A legalização de drogas vai ter que ser discutida. Se liberasse hoje, o país viveria um caos. Teria que ter fiscalização da vigilância sanitária – que não fiscaliza direito nem a carne e o leite. Mas temos que questionar, sim. Existem bons argumentos para isso. Nós não temos posição única na polícia, mas acho que o país precisa pensar sobre tudo”, completou, citando ainda a discussão sobre legalização do porte de armas.

Falta de eficiência em prevenção e investigação

O convidado falou por fim sobre a descrença da população nas instituições policiais, que, segundo ele, vem mais uma vez da burocratização do processo investigativo. Quando o indivíduo é furtado, por exemplo, liga para o 190 e espera algum policial disponível aparecer. Em seguida, precisa fazer entrevista e preencher o BO. É encaminhado então para uma delegacia – para no local começar “tudo do zero”.

“Existe um conceito moderno de ‘polícia completa’. Em todo país moderno é assim. Não pode existir economia de estrutura. Temos um mundo de atividade na PF e precisamos de mais gente! Tem gente de uma área trabalhando em outra, não pode”, disse.

Para exemplificar, comparou a Polícia Federal brasileira ao FBI (Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos) . Em nossa PF, há 12 mil federais ativos e 4 mil inativos. No FBI, por sua vez, apenas a área de investigação possui 32 mil profissionais.

“Existem grupos que estão na gestão e não querem mudar, eles se sentem ofendidos. No FBI também tem uma estrutura justa, você cresce de acordo com sua capacitação. Não é que nem aqui que você entra como delegado e já chefia um setor”, concluiu.

A polêmica da pausa na emissão dos passaportes, a fragilidade do Brasil no controle das suas fronteiras, a corrupção existente dentro da própria PF e os altos índices de suicídios de policiais também foram discutidos durante a tarde. Confira a íntegra no vídeo!

Jovem Pan

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