Diretor da PF fala em arquivamento de inquérito contra Michel Temer

Data: 15/02/18

Delegados da Polícia Federal criticaram duramente o diretor-geral da corporação, Fernando Segovia. Em entrevista à agência Reuters, ele disse que o inquérito, ainda em andamento, contra o presidente Temer sobre o setor de portos, em tese, poderia ser arquivado. Segovia foi nomeado para o cargo por indicação do MDB, com apoio do ex-presdiente José Sarney.

A entrevista do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, foi publicada no site da agência Reuters Brasil.

Segundo a reportagem, Fernando Segovia disse que a PF deve pedir o arquivamento de um inquérito que investiga o presidente Michel Temer. A suspeita é de que Temer tenha beneficiado a empresa Rodrimar, que opera no Porto de Santos com a edição de um decreto que prorroga contratos de concessão no porto em maio do ano passado. O prazo passou de 25 para 35 anos, podendo ser prorrogado para 70 anos

Ainda de acordo com a agência, o chefe da Polícia Federal disse que a tendência é que a PF recomende o arquivamento da investigação, porque até o momento as investigações não comprovaram que houve pagamento de propina.

Fernando Segovia disse: "O que a gente vê é que o próprio decreto em tese não ajudou a empresa. Em tese se houve corrupção ou ato de corrupção não se tem notícia do benefício. O benefício não existiu. Não se fala e não se tem notícia ainda de dinheiro de corrupção, qual foi a ordem monetária, se é que houve, até agora não apareceu absolutamente nada que desse base de ter uma corrupção".

Telefonemas gravados com autorização do Supremo mostraram auxiliares do presidente Michel Temer conversando sobre esse decreto. Entre eles, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, famoso por ter sido flagrado em uma corridinha com a mala de R$ 500 mil entregue pela JBS.

Rocha Loures aparece em uma conversa gravada com Gustavo Rocha, subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil, defendendo interesses de empresas que atuam nos portos brasileiros. Eles falam sobre uma mudança no decreto sobre portos que poderia beneficiar também quem conseguiu concessões antes de 1993, caso da Rodrimar. Gustavo, no entanto, alerta que Temer ficaria exposto demais. O decreto dos portos foi assinado sem incluir as concessões anteriores a 93.

O delegado responsável pelo inquérito, Cleyber Malta Lopes, encaminhou perguntas ao presidente Temer com o objetivo de esclarecer as suspeitas de suposto recebimento de propina por Temer e seus aliados. Na resposta, o presidente Temer criticou o delegado. Pouco antes de encerrado prazo para entrega das respostas, Fernando Segovia teve uma reunião com o presidente Temer num encontro que inicialmente não constava da agenda oficial. Depois, Temer e Segovia tiveram uma segunda reunião, oficialmente para tratar de assuntos ligados à Polícia Federal.

Na entrevista à Reuters, Fernando Segovia, disse que pode até investigar o delegado, que encaminhou as perguntas, se houver uma reclamação formal da presidência. E completou: "Ele pode ser repreendido, pode até ser suspenso dependendo da conduta que ele tomou em relação ao presidente",

A opinião do diretor-geral da Polícia Federal, no entanto, não é a mesma dos investigadores que estão à frente do caso. Para eles, o inquérito ainda não chegou à uma conclusão, a investigação tem avançado e é muito cedo para se descartar qualquer hipótese. Os delegados ficaram surpresos e indignados com as declarações do chefe da Polícia Federal. E a reação foi inevitável.

Delegados que atuam na Lava Jato enviaram esse texto num grupo de mensagens de celular aos colegas: "A manifestação do diretor-geral da Polícia Federal que está sendo noticiada pela imprensa, dando conta de que o inquérito que tem como investigado o presidente da República tende a ser arquivado, é uma manifestação pessoal e de responsabilidade dele. Ninguém da equipe de investigação foi consultado ou referenda essa manifestação, inclusive pelo fato de que em três de anos de Lava Jato no STF nunca houve uma antecipação ou presunção de resultado de investigação pela imprensa".

As associações de classe que representam delegados, peritos e agentes da PF se manifestaram, condenando a entrevista. Em nota, a associação de delegados da PF diz que "independentemente da posição que ocupe na instituição, nenhum dirigente deve se manifestar sobre investigações em andamento".

A Federação Nacional dos Policiais Federais cobrou uma retratação de Fernando Segovia. Em nota, afirmou que “os policias federais esperam uma retratação pública desse posicionamento, além de uma mensagem dirigida ao público interno”. E acrescentou que “é preciso garantir o bom funcionamento dos nossos trabalhos sem qualquer risco de que estaríamos vivenciando uma era de ingerências políticas em nossas investigações”.

Tanto o presidente Michel Temer quanto a Rodrimar têm negado qualquer irregularidade na edição do decreto.

Jornal Nacional

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