“A Policia Federal precisa ser repensada”, diz Marco Antônio Scandiuzzi

Escrivão aposentado diz que cargos de alto escalão nem sempre são distribuídos levando em conta critérios meritocráticos

Fonte: Comunicação Fenapef

Data: 22/05/20

Marco Antônio Scandiuzzi é policial federal aposentado desde 2016. Formado em administração, especializou-se em gestão da Polícia Federal. Há bastante tempo, compreendeu que a corporação precisa passar por uma mudança estrutural. O rebuliço dos últimos dias, com denúncias de vazamentos de informações oficiais e histórias sobre interferência política reforçou uma antiga certeza no escrivão experiente: há um jogo “amigocrático” e pouco ético na distribuição de cargos no alto escalão.

A observação, divulgada numa rede social, gerou notícia equivocada na mídia. O site da Revista Época divulgou, nessa quinta-feira (21), a análise de Scandiuzzi como acusação. “Não há acusação, e sim a análise dos fatos, exatamente como faço desde 2016 e estão publicadas em meu livro "A Segurança Pública de Dentro pra Fora", explica. A matéria ainda insinua delações, o que não aconteceu. No post de Scandiuzzi, não há um único nome. Scandiuzzi disse que não foi contatado pela reportagem, que acabou fazendo ilações equivocadas, como a de que a observação sobre adidância se referia ao delegado Márcio Derene.

Ele reforça que as nomeações para as adidâncias no exterior são feitas com critérios pessoais e não a partir de critérios objetivos e de mérito. “O próprio Maurício Valeixo fala disso em seu depoimento, quando diz que poderia sair da direção-geral direto para um posto no exterior, enfatiza”.

Scandiuzzi diz que faz análises em cima de modelos de gestão. E, segundo ele, é onde a Polícia Federal precisa de ajustes. “Defendo soluções coletivas que nos levem a um modelo de gestão onde as pessoas entrem pela base da carreira, possam progredir e chegar ao topo por seus méritos, passando por todas as etapas do crescimento e, além disso, que os cargos de chefia tenham critérios objetivos para ocupação”, disse.

“Como esses critérios não existem na PF, o que ocorre é o que chamamos de amigocracia, que é o preenchimento de cargos por pessoalidade do gestor do momento. Isso é muito ruim no âmbito da gestão como um todo. Basta uma pesquisa mais profunda que veremos que a cada mudança de Diretor-geral há uma troca das cadeiras em todo o escalão inferior e as escolhas decorrem da simples escolha pessoal do gestor acima”, avaliou. E prosseguiu: “com isso, cria-se a sensação que para ocupar um cargo é melhor ser amigo do que ser eficiente e isso é muito ruim”.

A solução, para ele, passa pela aprovação da Lei Orgânica da Polícia Federal, em tramitação há mais de trinta anos. O modelo é o mesmo defendido pela Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef): uma carreira única, com entrada pela base e promoções baseadas no mérito, na qualificação e na especialização do policial federal.

Notoriedade

A notoriedade obtida pela Polícia Federal com as grandes operações, como a Lava Jato, trouxe uma projeção inédita para a corporação. “Isso trouxe coisas boas e coisas ruins como todo excesso de publicidade. Se por um lado ganhou notoriedade, por outro as relações internas passaram a sofrer maiores desgastes”, avalia Scandiuzzi.

Para ele, é preciso tratar do assunto de forma direta e isso implica envolver a sociedade.

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