“Nossa polícia está afogada em burocracia”, diz presidente da Fenapef

Data: 15/05/18

"O nosso modelo é extremamente burocrático. Há várias investigações paradas na polícia", citou Luís Antônio Boudens

Nesta segunda (14) morreu um policial federal aposentado ao reagir a um assalto no Morumbi, bairro de São Paulo. Na semana passada, já havia sido morto outro delegado da PF, em São José de Ribamar, Maranhão, também por bandidos que assaltaram sua casa.

Luís Antônio Boudens, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), defendeu em entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã desta terça-feira (15) uma “urgente mudança em nosso modelo de investigação e prevenção”.

“O assaltante já tinha cinco passagens pela polícia e mesmo assim recebe a concessão do indulto. Isso deveria ser apenas para presos sem periculosidade”, defende Boudens, sobre o caso. Ele também cita as audiências de custódia, criadas para desafogar as cadeias em casos de menor gravidade e, segundo o delegado, “foi sendo desvirtuada para investigar a conduta de policiais que executam a prisão em flagrante”.

O presidente da Fenapef expande o assunto e defende a “urgência na mudança do modelo de trabalho” das polícias.

“O nosso modelo é extremamente burocrático. Há várias investigações paradas na polícia”, citou. “Esse vazio que temos entre o tempo que demora a investigação e a falta de efetividade dela, principalmente esses assaltos com violência, mão armada, e que levam ao homicídio, isso precisa ser mudado urgentemente”, apontou Boudens. “A nossa polícia está afogada em burocracia”, definiu.

Uma das formas de desburocratizar as polícias seria criar áreas de investigação, mas não torná-las “área de monopólio”. Boudens cita o Banco Central, o Coaf e a Receita Federal como órgãos com condições de investigar, cada um em sua área. “Investigação não é lugar de economia nesse Brasil que tem tantos crimes”, afirmou.

Ele cita a importância também da unificação das polícias civil e militar. “Uma polícia faz o BO e vai bater à porta de outra polícia para receber esse trabalho. Isso tem que acabar”, exemplificou.

Crítica ao MP e Judiciário

O representante dos federais criticou o Judiciário e o Ministério Público, que estariam “afastados”. Boudens diz que são “instituições cada vez mais elitizadas” e critica a discussão sobre o auxílio-moradia deles. “Um auxílio-moradia equivale a um valor superior ao salário inicial de um policial militar na maior parte do Brasil”, comparou.

Boudens reconhece que é difícil estabelecer um patamar mínimo nacional de salário aos policiais, uma vez que “depende da condição de cada Estado”. Mas para combater a defasagem, defende que se estabeleçam “condições mínimas de vida para o policial em outras áreas como educação e saúde” e “benefícios como moradia, atendimento à saúde”.

O presidente da Fenapef citou ainda a importância de criar planos de carreira para policiais e “devolver o perfil policial, a vocação”, também com uma “academia forte”, que invista em inteligência e direitos humanos.

“(O policial) tem que sair da academia com a formação de que é um profissional formado para ser amigo da sociedade, trabalhar por ela”, disse.

Assista à entrevista completa de Luís Antônio Boudens:

 

Veja sobre o caso do delegado da PF morto no Morumbi, em São Paulo:

 

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