Estudo aponta descrença popular na reforma política

Data: 16/06/15

A queda na popularidade de políticos e partidos, e particularmente da presidente Dilma Rousseff, tem sido recorrente desde as manifestações de 2013, com alguns poucos momentos de respiro. Mas o que mostra uma nova pesquisa de opinião do Departamento de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (Dapp/FGV), obtida com exclusividade pelo Valor, vai além: o brasileiro não acredita na capacidade das instituições de reverterem a atual crise. Pior: 70% tem baixíssima expectativa em relação à reforma política e 60% está insatisfeito com a democracia no país.



O monitoramento confirma a piora na avaliação da presidente Dilma Roussef. Nada menos que 77% dos entrevistados não confiam em Dilma. Partidos, governadores, senadores e deputados, porém, estão piores que Dilma, com índices de desconfiança em torno de 80%. A insatisfação com o funcionamento da democracia alcança 3 em cada 5 brasileiros.

A pesquisa realizada pela FGV­DAPP é a terceira de uma série sobre políticas públicas iniciada no primeiro semestre de 2014. Foram entrevistadas 3.600 pessoas em cinco regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre) e no Distrito Federal entre os dias 14 e 18 de abril, cinco semanas antes da decisão da Câmara de manter o atual sistema de eleição de deputados.


O desapreço pela democracia e pelas instituições é historicamente alto no Brasil, se comparado a outros países da região, conforme já foi medido por diversas organizações que se dedicam as pesquisas comparadas, como Latinobarometro e Iberobarometro, que fazem esta medição com regularidade. A confiança no sistema democrático sempre é maior quando há um consenso na sociedade de que é possível arbitrar diferenças sociais por meio do sistema representativo e nas situações em que existe alto grau de polarização política, conjugado ao frequente exercício do voto. O apoio à democracia também costuma ser alto nos países em que a memória de regimes autoritários traumatiza a opinião pública.



No Brasil, o sistema político é relativamente blindado em relação a demandas sociais; como se apontou por ocasião dos protestos de 2013; o uso de instrumentos de democracia direta é episódico e a reflexão sobre o passado ditatorial é pequena e circunscrita a poucos nichos da sociedade.



No caso brasileiro, a pesquisa feita pelo Latinobarometro há dois anos marcou 69,2% dos pesquisados insatisfeitos com a democracia, índice só superado no Paraguai e no México. Na pesquisa do Iberobarometro, que mediu o apoio a um golpe militar em determinadas situações, feita em 2014, um ano eleitoral, nada menos que 47,6% se disseram favoráveis a uma ruptura institucional, só de Peru e Paraguai.


Para Marco Aurélio Ruediger, Doutor em Sociologia e Diretor da Dapp/FGV, no Brasi existe um movimento de reforma política na contramão das demandas da sociedade, que não está passando despercebido. “A sociedade não está nas ruas, mas está atenta, acompanha e discute os assuntos. A pesquisa mostra uma dissociação muito grande entre o que se espera e o que se está fazendo, e isso é problemático. Uma reforma que mantenha o status quo obsoleto ou até que o piore não será durável”, diz.


Segundo ele, o risco que existe hoje é que as decisões tomadas se distanciem demais das expectativas. “Hoje em dia, todo mundo quer mais transparência, mas a reforma política que está se discutindo é circunstancial e tática. Não contempla nada disso”, afirma, lembrando que a interlocução com a sociedade civil não está posta na proposta, que ainda trouxe a tona a discussão sobre o voto facultativo. “Sem que essa fosse uma demanda concreta. É outro ponto bizarro”, completa.



No capítulo que questiona a avaliação sobre os serviços públicos, como as mesmas perguntas foram feitas nas entrevistas de abril e outubro de 2014, é possível medir a piora da avaliação. A desaprovação na educação alcançou 74% dos entrevistados, depois de ter caído de 67% (abril/2014) para 61% (outubro de 2014. A avaliação no setor de transportes também voltou a piorar. Está em 67% de insatisfeitos contra 56% em outubro (e 73% em abril).



Rudieger chama atenção, porém, para o fato de segurança e saúde não terem vivenciado a mesma melhoria de educação e mobilidade na época das eleições, mesmo que nessa última pesquisa a percepção sobre todos os serviços pesquisados tenha se deteriorado. Para ele, isso deixa claro que a população percebe a falta de uma agenda para essas duas áreas.



“Nas redes sociais, esses assuntos são debatidos o tempo todo. O problema é que a cobrança é imediata e o tempo de resposta gera uma tensão frequente porque o desenho institucional e até a cultura política estão muito distantes dessa expectativa”, resume.

                

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